Considerado um dos maiores
gestores de recursos do mundo, David Swensen é o responsável pela gestão do
patrimônio da Universidade de Yale. Quando tomou a gestão em 1985 tinha pouco
menos de 1 Bilhão de dólares. Em 2010 o patrimônio valia 16,7Bilhões. Não
podemos esquecer ainda que ele é considerado o “inventor” dos swaps. Tudo bem,
swap em 2008 se tornou palavrão e arma de destruição em massa, mas não podemos
negar a importância desse veículo financeiro e que ainda faz trilhões em
negócios no mundo todo nos mais diversos mercados. Claro que não mais com a
rentabilidade de quando foram criados, hoje o mercado de swaps está muito mais
eficiente.
Fiz as contas: 11,92%a.a. Considerando que a
bolsa lá sobe cerca de 8%a.a. e os títulos públicos são de baixa remuneração, é
um resultado extraordinário. A forma de gerir de Swensen se tornou famosa e é
chamado “Modelo Swensen”.
Primeira coisa que fez quando
assumiu: buscou modelos em outras universidades e outros gestores. Antes disso
ele nunca tinha feito gestão de portfólio. O que encontrou? Portfólios
compostos de 40% bonds e 60% ações americanas. Ué! E o princípio da diversificação
tão ensinado nas universidades? Por que não aumentar a diversificação para diminuir
a volatilidade (variância) para o mesmo nível de retorno ou até aumentar o
retorno para o mesmo nível de volatilidade?
Outro problema que encontrou nos
portfólios de outras instituições: havia uma boa parte do portfolio que não
estava em ações. Ué, mas se o mercado acionário dá o maior retorno histórico e
o objetivo é de longuíssimo prazo, porque não aumentar a exposição a ações? Sua
primeira dúvida veio em determinar sua alocação estratégica. Quanto colocar em
cada classe de ativo? Ações domésticas, ações internacionais, bonds, venture
capital... A segunda preocupação: fazer Market Timming? Ele fez através de
pesos diferentes em diferentes mercados acionários de diferentes países.
Exemplo, se o mercado acionário norteamericano estava considerado caro por
métricas de valuation, ele aumentaria o peso em ações emergentes mais baratas.
Não seria o timming de acertar movimentos do mercado como os elliotistas fazem,
mas um timming baseado em alocação tática de diferentes países, em diferentes
mercados acionários. Outra dúvida: seleção de ativos. Comprar fundos de índice
ou fazer gestão ativa para bater o mercado?
Vamos lembrar que o mercado é um
jogo de soma zero, ou mais precisamente, um jogo de soma negativa devido aos
custos envolvidos. A soma do que um ganha deve igualar o que o outro perde ou
deixa de ganhar.
Alocação de ativos é o principal
determinante dos retornos dentro dos fatores que podemos modificar. O maior de
todos é o movimento do mercado (nota minha). Se você faz day-trade, alocação
tem peso zero nos seus retornos. Nesse caso todo seu retorno vem do Market timming.
Market timming é caro, assim como seleção de ativos. Não é o caso da Yale. Eles tem um portfólio de
longuíssimo prazo e a alocação faz toda diferença. Então, ao tirar o sistema de
Market timming e seleção de ativos, você já elimina dois pontos de alto custo
dentro do seu portfólio e cujos retornos tendem a zero, ou mais
realisticamente, tendem a negativo devido aos custos envolvidos.
Bem, ações dão o maior retorno
histórico. Então porque não colocar 100% do capital em ações? Lembram a crise
de 29? As ações de empresas pequenas (as mais rentáveis historicamente)
chegaram a perder 90% de seu valor. Então seria psicologicamente intolerante
colocar 90% do patrimônio em risco, pois a partir de determinado ponto tendemos
a achar que o jogo está perdido e não tem mais volta. Provavelmente antes de
perder os 90% já teríamos vendido toda posição e voltado para os títulos do
governo com a promessa de que nunca mais compraríamos ações, apenas para ver o
mercado subir forte nos próximos 50 anos. Daí a importância de diversificar
para diminuir a volatilidade do portfólio.
Um estudo da Morningstart por 10
anos em fundos mútuos comparou os retornos de fundos com retorno no tempo e
retorno em capitalização. Para todos os períodos estudados, os retornos em capitalização
superaram o retorno no tempo, mostrando que os investidores entravam e saíam
dos fundos nos piores momentos. Daí o porque o retorno no tempo era sempre
menor e o retorno dos fundos que mais recebiam aportes eram aqueles que tinham
acabado de ter bom desempenho, apenas para ter um mau desempenho log após. E os
fundos que mais perderam capital foram aqueles que tiveram um desempenho ruim
no curtíssimo prazo. Ou seja, os investidores tendem a entrar após um desempenho bom e sair após o
desempenho ruim. O ideal seria o contrário. Ou seja, não tente fazer Market Timming.
Na média não é possível.
Outro estudo avaliou os 10
melhores fundos de tecnologia na bolha de 2000. Investidores perderam 72%
(9,9Bilhões) do dinheiro investido nesses fundos após o estouro da bolha. O retorno
desses fundos foi em média 1,5% a.a. nos últimos 6 anos. Como podem ter perdido
se os fundos deram resultados positivos? Obviamente quase ninguém estava
investido em 1996, 1997, 1998, e em 1999 quando os retornos se tornaram
estratosféricos, houve um grande influxo de capital. Logo após houve o estouro
da bolha e resgatam seus prejuízos. Novamente: não façam Market timming. Você
não é capaz.
Qual sua chance de escolher a
melhores ações para bater o mercado? Bom, você pessoa física, praticamente
nenhuma. Considerando que você escolheu gestores profissionais de fundos de
ações para fazer essa seleção para você, após 10 anos, apenas 14% dos fundos
tiveram resultados melhores que o índice. Nesses 14% já está incluído o viés de
sobrevivência, pois dos 30361 fundos iniciais, 11232 fecharam, provavelmente por
péssimos resultados. A fusão de fundos com resultado ruim em outro de bom
resultado é outra forma de ocultar os más-resultados. Ou seja, mais de 1/3 dos
fundos fecharam. Mesmo assim, apenas 14%
conseguiu bater o índice.
Num mercado eficiente como o mercado
de ações americano, ao melhor a fazer é seguir o benchmark. Suas chances de
bater o índice no longo prazo são muito pequenas. No mercado de títulos, a
eficiência é ainda maior, na média os retornos não variam mais que 0,5% a.a.
Large caps 2% a.a., ações internacionais pode chegar a 4% a.a., imóveis 9,3%,
venture capital 43% de ineficiência.
As críticas ao Modelo Swensen: no
pânico apenas 2 coisas importam – segurança e diversificação. Se colocarmos 30%
em títulos, estaremos diminuindo a volatilidade, mas incorrendo num grande
custo de oportunidade pois logo após o pânico, 6, 12 ou 18 meses o mercado
recupera e deixamos de lucrar nos 30%. Críticas a colocar ativos alternativos no portfolio,
porém foram os grandes retornos do portfólio: bonds 5,9%aa, private equity 6,2%,
imóveis 6,9%, absolute return 11,1%aa, oil and gas 27,1%a.a. Então, se você tem
um horizonte de tempo muito grande faz sentido desviar o portfolio em direção a
alternativos e ações.
Outras instituições em média
tiraram 4% aa. Yale conseguiu em 25 anos 13,1%a.a. O maior retorno em instituições
nos EUA. Swensen é uma lenda viva e certamente tem muito a nos ensinar em
gestão de portfólio para o longo prazo.
O trabalho do gestor não é
selecionar os melhores ativos. Ele faz parcerias com outras instituições que
executem esse trabalho para ele. Encontrar os melhores gestores de fundos de
hedge, os melhores gestores de ações pequenas, etc. Esses agentes atuam em
favor da universidade. Lembrando que Yale não paga impostos e isso influi muito
nos resultados quando comparado com a pessoa física. Outro ponto importante é
que a maioria dos indivíduos e instituições não tem como fazer seleção ativa de
ativos para bater o mercado. Poucas horas por semana não são suficientes para
isso. Yale tem as parcerias que conseguem bater o mercado. A pessoa física não
deve sequer tentar fazer isso. Compre fundo de índice e rebalanceie quando
necessário. Faça uma boa alocação de ativos e mantenha dentro dos limites
pré-determinados. Por exemplo, ele sabe que setores como biotecnologia são
pouco eficientes ainda e ele tem um gestor que consegue bons resultados nessa
área.
Swensen recomenda ou ser
agressivamente ativo ou ser totalmente passivo! Ambas as estratégias podem ser
vencedoras. A maioria das pessoas fica no meio, com parte passiva e parte do
portfólio ativa e terminam pagando por gestão ativa e tem retornos abaixo da
média. Isso não funciona.
E para terminar, assim como eu,
Swensen não concorda com o uso do Sharpe para medir risco (apenas mede
variância). Quanto mais ilíquido o portfolio, mais falsamente alto será o
Sharpe, pois não haverá cotação e oscilação diária para aumentar o
desvio-padrão.
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