quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Zoom out e um pouco sobre otimização de portfólio

Olá amigos seguidores do Blog Holanda Trader,

Vamos hoje parar de falar de ativos específicos em que estamos posicionados e dar um Zoom out. Vamos ver o quadro maior. A montagem da carteira de investimento para a pessoa física iniciante no mercado de capitais. Vamos nos basear na atuação dos grandes gestores de fundos com dezenas ou centenas de milhões de Reais (alguns acima de 1Bi) sob gestão e como capturar as grandes tendências do mercado.

Nada mudou em nosso portfólio recentemente. As posições em renda fixa continuam as mesmas, preparadas para capturar o ciclo de queda dos juros que já se iniciou, embora com intensidade e velocidade mais lenta que eu pessoalmente estava esperando. Nas primeiras postagens sobre o assunto aqui no blog calculava ganhos em torno de 30% para este ano na renda fixa, mas até o momento estamos com cerca de 22% e o ano está acabando. Não acredito que vou bater os 30% na renda fixa apenas ainda em 2016. De toda forma, vou manter o nível atual de agressividade da carteira de renda fixa, pois no período pós-eleição de Trump chegamos a um drawdown de quase 5% apenas em renda fixa. Para ganhar muito, temos que arriscar muito.

Será mesmo?

Markovitz afirmava que o investidor gosta de média (retorno), mas não gosta de volatilidade (risco). Não que risco e volatilidade sejam a mesma coisa, mas é como erroneamente os participantes do mercado consideram. Não confunda também risco de ruina x volatilidade dos retornos. São coisas diferentes que devem ser abordadas de formas diferentes e apresentam interpretação diferente. Vou tentar me explicar. Risco de ruína é o risco de perder capital suficiente a ponto de inviabilizar a recuperação do portfólio. É como se você tivesse quebrado, desistido do mercado e tivesse que re-aportar capital em sua conta para reiniciar os investimentos, provavelmente usando outra estratégia. É o risco de morte fora do mercado. Você pode me convencer facilmente de que é necessário viver a vida intensamente, mas você não pode me convencer de que é legal dirigir sem cinto de segurança, ou pular de paraquedas sem saber quem o dobrou. Viver intensamente é bom. É instigante. Assim como uma carteira otimizada com um nível de variância (volatilidade) maior. Porém a questão subjetiva e puramente teórica é... até quanto de volatilidade você é capaz de suportar? Até que nível de adrenalina você deseja em sua vida?

Usando a Teoria Moderna do Portfólio conseguiríamos montar carteiras cujo risco e retorno estejam otimizados, ou seja, se desejamos maiores retornos, vamos correr maior volatilidade (positiva ou negativa), porém esse nível de volatilidade é pré-conhecido e adequado aos meus planos e à minha psicologia emocional financeira. Isso envolve momento de vida (solteiro?, vai casar?, filhos?, estudando? acumulando patrimônio?), tolerância individual ao risco, crenças sobre o dinheiro, formação familiar, tempo dedicado ao acompanhamento e ajuste das posições.
Olhando a curva da fronteira eficiente vemos que um pequeno incremento no risco vem acompanhdo de um aumento substancial nos retornos. Isso aumenta até a inversão do quadro. Ou seja, após determinado nível de risco, a adição de mais ativos de alta volatilidade (opções, futuros, ações) gera um aumento maior do risco sem a contrapartida nos retornos. A partir desse nível, estamos fora da curva ideal do portfólio.
Em outras palavras, esqueça a história popular de que se sou conservador vou montar uma carteira apenas de risco próximo a zero (soberano) com Tesouro Selic, por exemplo. Essa carteira não tem um resultado otimizado risco x retorno. É possível melhorar bastante o retorno adicionando-se pouco risco a um portfólio desse tipo. O contrário é verdadeiro: se me considero inteligente, solteiro, capital sobrando, vou montar um portfólio baseado 100% em ações, afinal no longo prazo devem performar melhor que a renda fixa. Ledo engano. Estará com uma carteira extremamente volátil, de difícil acompanhamento e difícil suporte emocional. Grandes riscos de que você desista da estratégia no pior momento possível do mercado: no prejuízo. Na prática o tiro sai pela culatra. São 12 anos de mercado. Pode crer no que estou falando. Uma carteira baseada 100% em ações fere a parte mais sensível do seu corpo: seu bolso.

Críticas ao Prêmio Nobel? Sim, várias. A começar tudo que ele descreve pode ser inviabilizado quando no seu trabalho ele afirma que temos que supor conhecer o risco e o retorno dos ativos. Ora, não conhecemos. Estimamos. Estimativas variam a cada tempo t. Elas mudam. Logo, todo arcabouço matemático que é criado para explicar a otimização não tem valor se os dados que usamos são falhos. Ele ainda fala da necessidade de associar ativos cujas covariâncias se anulem, a fim de diminuir a volatilidade e favorecer os retornos. Obteríamos uma combinação de ativos em que teríamos o máximo de retorno para determinado nível de risco, ou ainda, o mínimo de risco para determinado risco de retorno. Qualquer resultado nos investimentos fora das duas afirmações acima seria um resultado não-ideal.

Ok, não entendo nada disso, não sei como calcular a composição da minha carteira, não sei nem sequer em que momento da minha própria vida eu me enquadro.
Tudo bem. Você não é o único, mas quer uma sugestão? Consulte quem sabe. Ele poderá criar uma carteira para você. Certamente o dinheiro investido vai render com mais tranquilidade e eficiência. Não que seja infalível, mas é eficiente. Não perderá tempo e ganhará juros compostos. As consultorias se pagam em pouco tempo. Sua carteira e seu novo aprendizado permanece. Depois disso você fica livre para investir como quiser e vai se sentir muito mais preparado para gerir todos os componentes da carteira. Dê um Zoom Out. Esqueça um pouco o chamado diário do seu assessor da corretora querendo te empurrar algum novo produto milagroso. E sabe por que existem consultores financeiros? Porque nós vemos as bobagens que os investidores e especuladores iniciantes (ou quem não tem formação na área) cometem e como eles poderiam estar melhor.

Antes de encerrar, só mais um adendo: a junção de ativos com risco médio não cria carteira de risco baixo, ainda que suas covariâncias sejam inversamente correlacionadas. Ativos de risco médio podem sofrer risco de ruína a qualquer momento e não são componentes de uma carteira de baixo risco. Baixo risco é risco soberano. Dívida pública, Tesouro Direto. Agora sim, combine e otimize. Um outro percentual será em ativos de alto risco como as ações. Tenho uma forma própria para calcular o percentual de ações que um indivíduo deve ter um sua carteira para ganhar bem com tranquilidade. Esqueça a fórmula dos 100 - Idade. Use Markowitz. Não é perfeito, pode não ser plenamente objetivo. 10 gestores usando sua teoria terão 10 carteiras cujos retornos são diferentes. Tudo bem. Não há como eliminar a aleatoriedade dos retornos em renda variável, afinal, por definição, eles variam. Não basta querer as "dicas" de ações: compre Banco do Brasil, Itaú e Ibovespa. Tem que saber o quanto comprar, a que preço entrar, a que preço sair, qual porcentual do capital você usa na compra e quanto de risco você aceita até o seu stop loss. Em tempo, não temos nenhum desses 3 ativos acima na nossa carteira do Setup Holanda Trader atualmente. Os retornos desse ano já ultrapassam os 90%.

Gostaria de falar de curtose e skewness, conceitos fundamentais para compreensão da filosofia de investimento que adoto no meu Setup Holanda Trader, mas está tarde. Ficará para a próxima. Depois explico porque o índice de Sharpe (tão usado pela indústria de fundos) não é um bom avaliador para sistemas seguidores de tendência. Há vários trabalhos sobre o tema. Por enquanto fiquemos apenas com a melhoria da relação risco x retorno (volatilidade) usando cálculos simples.

Abraço a todos e bons trades,
Holanda Trader