A
sociedade está em constante evolução e mudança. Os adultos jovens e
adolescentes do mundo de hoje já não tem a nostalgia e o apego material que a
geração anterior apresentava. Para eles o mais importante é usufruir, e não necessariamente
ter a posse do objeto. Ter a experiência, não pagar para possuir a capacidade
de fazê-la. Ao mesmo tempo, o crescimento nos grandes centros urbanos e o
consumismo excessivo criaram uma condição em que muitos apresentam uma hipercapacidade
produtiva estagnada. Ou seja, gasta-se um grande percentual da renda para
comprar um carro que apenas é utilizado 3 horas por dia. Compra-se anualmente
um novo smartphone com maior capacidade de processamento para utilizar
aplicativos que usam pouquíssima necessidade de processamento como WhatsApp e
Facebook. Consultas médicas são agendadas para até 30-60 dias de distância,
quando na verdade 25 a 50% dos pacientes que agendam não comparecem às
consultas.
Assim surge o conceito relativamente
novo de sharing economy, economia
colaborativa, entre outros termos utilizados. Uma forma otimizada de utilizar
recursos já disponíveis, que estão em excesso e sem uso, para uso racional,
otimizado e com ganhos para todos os envolvidos.
Se você vai viajar, e deixar seu
carro parado em casa, por que não alugar seu carro nos dias em que estará viajando?
Ao invés de pagar caríssimos estacionamentos de aeroporto, agora se pode ganhar
algum dinheiro enquanto se está fora.
Tem cachorro, mas não tem com quem
deixar enquanto viaja? Por que não contratar um caseiro durante a viagem? Sai
mais barato que pagar um hotel para cachorros, e é mais confortável para o
animal.
Carro
parado na garagem? Por que não o alugar por horas?
Precisando
fazer compras, mas não tem tempo? Precisando de pequenos serviços dentro de
casa? Precisando de uma ajuda por poucas horas no escritório? Sites específicos
permitem a interação entre os que oferecem seu tempo livre com os interessados
e necessitados de pequenos serviços.
Seu
WiFi está parado em casa? Que tal permitir que outras pessoas a utilizem
enquanto se está fora de casa, e ganhar acesso ao WiFi de todos participantes da
rede, inclusive na localidade para qual você vai viajar?
Sobrou espaço na mala? Por que não
alugar esse espaço para trazer algo para alguém que esteja precisando?
Novamente resolverá o problema para ambas as partes.
Por que comprar jóias caríssimas se
elas ficarão um bom tempo ociosas na gaveta? Alugar seria uma melhor opção.
Otimiza o uso de quem aluga e resolve o problema de forma barata para quem está
alugando.
Fintechs já permitem a realização de
empréstimos diretamente entre as pessoas, sem a necessidade de intermediação de
um banco. Isso diminui os custos e melhora a rentabilidade de quem empresta.
Estes são apenas alguns dos
problemas que a economia colaborativa está resolvendo. Com o uso da comunidade,
todos saem ganhando. Existem previsões de que a economia colaborativa irá
ultrapassar o capitalismo individual em alguns anos. Seria, segundo o autor
Jeremi Rifkin, a chamada economia pós-consumo, em que a posse não mais importaria
tanto, e os direitos de propriedade ficarão cada vez mais enfraquecidos.
O conceito de economia colaborativa
é relativamente novo e está mudando completamente a forma de interagir na
sociedade atual. Ela ainda não atingiu seu ápice, e com o desenvolvimento
tecnológico necessário para sua implantação, ela pode estar apenas começando.
Aqui deixa-se de lado a simples
participação como consumidor e nos posicionamos como participantes do sistema,
seja com a criação, produção, colaboração, ou financiamento de alguma atividade
que não está sendo bem explorada na forma da economia de consumo tradicional. O
objetivo não é acabar com o sistema de posse das coisas e talvez ambos sistemas
caminhem lado a lado por muitos anos. Há quem afirme que esse modelo apenas
formalizou, via tecnologia, aquilo que já se fazia há bastante tempo, porém
informalmente.
Um conceito presente na economia
colaborativa é a diversidade, uma vez que a interação entre diversos produtos é
alavancada frente às diferentes ofertas existentes. Também o conceito do
intermediário está sendo modificado. Hoje temos a ascensão de conceitos e
negócios realizados diretamente entre os envolvidos, conectados por meio da
rede mundial de computadores, a internet, o chamado peer-to-peer. Este tipo de
relação tende a aproximar as partes interessadas no negócio, assim como se
fazia nos antigas feiras, com a grande diferença de que agora a conexão entre
eles não se dá num local físico organizado, com objetivo único, mas sim num
site ou aplicativo com objetivos definidos, capazes de permitir acesso a
qualquer indivíduo ao redor do globo, independentemente de localização
geográfica, sexo, raça ou estado social.
Além disso, na economia
colaborativa, o intermediário que antes era o responsável por dar a confiança
no processo (vide a figura de intermediários clássicos como a grande
instituição bancária, a empresa locadora de veículos, a grande rede de Hotel, a
grande rede de restaurantes, etc.), passa a ser substituído pela própria
comunidade ativa. São os próprios usuários do sistema que vão gerando
credibilidade nele, assim como numa rede o seu uso gera sua importância. As
sucessivas avaliações geradas pelos usuários vão gerando a confiança ou repulsa
necessária. Nessa nova forma de pensar o mundo, estamos interagindo com
estranhos numa intensidade nunca antes vista. Já não precisamos confiar na
empresa Uber para realizar uma viagem de carro, apenas confiamos no motorista
que está vindo nos buscar pela primeira vez na vida e não se sabe muito sobre
sua origem ou seu passado. As avaliações anteriores realizadas por usuários são
a base da confiança da nossa aprovação ou não, do serviço que iremos contratar.
Da mesma forma, estamos nos hospedando na casa de estranhos, sem qualquer forma
de interação prévia. Simplesmente olhamos fotos de sua casa, e se gostarmos do
que vimos, fechamos um contrato de aluguel para utilizar a casa de um terceiro por
poucos dias. A AirBnb atingiu valor de 30 bilhões em valor de mercado,
superando todas as redes de hotéis. Não se fala na figura do corretor de
imóveis, nem da imobiliária de confiança. Aqui, relatos de usuários, ou relatos
em rede social são suficientes. Após o uso, cada participante do sistema também
deixa sua avaliação e é avaliado. Assim o sistema vai se tornando cada vez mais
confiável. Sem intermediários.
É
inegável o papel da nova forma de relacionamento econômico entre os
participantes do mundo moderno. Os ganhos de tempo, eficiência e até mesmo os ganhos
em indicadores ambientais são inquestionáveis. O uso da tecnologia já
existente, combinada de forma a gerar produtividade e eficiência nos processos
já existentes, assim como otimizar para resolver problemas aparentemente crônicos
e insolucionáveis na forma tradicional de se fazer negócios, gera uma ruptura
da forma de se viver, uma vez que é quase impossível não ser impactado
positivamente pela melhora de custos e eficiência proporcionado. Para os usuários
da geração anterior, fica o desafio mental e comportamental de acreditar no
sistema tecnológico baseado em big data
e machine learning, sem que haja
necessariamente uma pessoa curiosa bisbilhotando os dados inseridos no sistema.
O medo da segurança da informação e a perda de privacidade, ainda são grandes
empecilhos à adesão em massa.
Porém
não se trata de algo do futuro, mas um forte movimento que já está acontecendo
e gerando benefícios inegáveis à sociedade. O compartilhamento de produtos,
serviços, e até do conhecimento e tempo disponíveis, permite um maior fluxo
financeiro entre os participantes, gerando uma possiblidade de resolução de
problemas completamente inexistente até pouco tempo atrás.
O
objetivo final dessa nova forma de utilizar recursos é uma melhora da qualidade
de vida de todos os envolvidos na cadeia econômica, otimizando recursos, diminuindo
custos e gerando novas formas de interação humana.
Com
criatividade, tecnologia, e uma visão voltada à resolução de problemas já
existentes, novas empresas serão criadas e o mundo será completamente diferente
do que temos hoje. Em cada vez menos tempo.
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